sexta-feira, 17 de abril de 2009

Biografia de Martinho Lutero

A contribuição de Lutero à reforma Protestante constitui a base para todo desenvolvimento da Teologia Evangélica Luterana. Além disso, seus escritos, em grau maior ou menor, serviram diretamente de fonte de inspiração para o pensamento teológico e para pregação da Palavra em todas as épocas subseqüentes à era da reforma. Como conseqüência, os escritos de Lutero passaram a ocupar um lugar central na história da Teologia.
Depois dos estudos preliminares em Megdeburgo e Eisenach, Martinho Lutero ingressou em 1501 na universidade de Erfurt, onde estudou na Faculdade de Artes e concluiu com sucesso seus exames de mestrado a 7 de janeiro de 1505. Ali aprendeu filosofia aristotélica segundo a via moderna, o que vale dizer, na tradição nominalista. Representantes dessa Escola, que então denominava várias universidades alemães, opunham-se ao tomismo e reivindicavam entender e interpretar a filosofia de Aristóteles de modo mais correto. Posteriormente isso se refletiria, por vezes, na polêmica de Lutero. Era conhecido entre seus colegas como dialéto sutil.
Depois de obter o grau de Mestre em Artes, Lutero começou a estudar Direito e lecionar, ao mesmo tempo, na faculdade de Artes. Mais a essa altura ocorreu a crise no verão de 1505 o levou a decidir tornar-se monge. Lutero entrou no Mosteiro dos agostinianos eremitas em Eufurt. Depois de dois anos foi ordenado sacerdote, estudou Teologia de acordo com o programa de estudos do mosteiro. Durante esse tempo familiarizou-se com a posição dogmática dos ocamistas. O Collectorium de Biel e os comentários sobre as sentenças de Pedro d’Ailly e de Occam estavam incluídos entre as obras que estudou. Em 1509, depois de lecionar por um ano em Witenberga sobre a ética de Aristóteles, Lutero tornou-se sententiarius, grau que lhe conferia o direito de fazer preleções sobre as sentenças de Pedro Lombardo.
Em 1510 Lutero foi enviado a Roma para tratar de questões referentes a uma disputa dentro da ordem agostiniana, e ele, como muitos outros que peregrinaram a Roma na época, desiludiu-se com a degenerescência ali encontrada. Depois de seu retorno à Alemanha, Lutero viu-se forçado a abandonar Erfurt e ir a Witenberga, onde o Eleitor Frederico, o Sábio, organizara uma pequena universidade em 1512 e onde o vigário-geral da ordem de Lutero, Joham Von Staupitz, residia.
De 1513 a 1517 Lutero continuou a trabalhar no anonimato, ensinando, pregando e debatendo. Durante esses anos fez preleções sobre os Salmos (1513-15), Gálatas (1516-17), e Hebreus (1517-18). Algumas destas preleções foram preservadas, parcialmente, em apontamentos tomados pelos alunos e em parte, nas próprias notas de Lutero.
Estes primeiros escritos preparam o caminho para o aparecimento posterior de Lutero num palco muito maior e contribuíram para o ponto de vista amadurecido da Reforma.
Com respeito à interpretação da escritura,Lutero neles expressou a opiniao que so se pode entender a Biblia a partir da experiencia religiosa, ou, mais propriamente, quando o que se aprendeu dela e posto em pratica mediante a fé.
Lutero apoiou-se muito em Agostinho. Em seus primeiros anos, como regra geral, identificava sua posicão como a de Agostinho. Foi o ensinamento agostiniano de pecado e graça que Lutero desejava manter em oposicão a doutrina da escolastica sobre a justificacão. Isso também foi decisivo no que tange a relacão entre Lutero e o ocamismo.
Muitos dos conceitos derivados da tradicão nominalista imprimiram sua marca de modo permanente no pensamento de Lutero. Pode-se, por exemplo,apontar a distincão entre teologia e ciência, a critica da doutrina do habitus, ou a idéia do poder absoluto e bem-organizado de Deus (potentia Dei absoluta et ordinata). Nos pontos essenciais, no entanto, pode-se perceber quanto inteiramente Lutero rompeu com a teologia ocamista. Seus escritos polemicos cedo e com frequencia foram dirigidos contra esta posicão. O pelagianismo do ocamismo na doutrina da graca, a fusão de teologia e filosofia foram atacados severamente num debate contra a escolastica em 1517. Lutero sustentou que era despropisitado afirmar que homem pode com suas forças naturais amar a Deus sobre todas as coisas, preparando-se desta maneira para receber a graça. Ao invés disso, é carcterística do homem natural o amar-se a si mesmo e ao mundo, e opor-se a Deus. A graça precede a boa vontade, e para que alguém possa fazer o bem é preciso que se torne bom é preciso que se torne bom primeiro. Os ocamistas falavam da logica da fé, aplicavel mesmo em questões que incluem os mistérios da fé, mas assim fazendo precisavam trazer proposições teologicas ao tribunal da razão e misturar teologia com filosofia. Dissera-se durante a Idade Média que niguém podia ser teólogo sem a ajuda de Aristóteles. Mas Lutero disse que ninguem podia ser teólogo a não ser que rejeitasse a ajuda de aristóteles.
As primeiras manifestações de lutero alcançaram repercussão diminuta. Mas quando afixou suas Noventa e Cinco Teses a 31 de outubro de 1517, iniciando assim o conflito contra o florescente abuso do sistema das indulgências, provocou a tempestade que em pouco tempo o conduziu a um completo rompimento com a igreja de Roma e sua teologia. Seguiu-se uma guerra de panfletos, envolvendo, entre outros, silvestre Priérias e Lutero, e, em 1518, cúria romana, agindo por intermédio do Cardeal Cajetano, tentou de maneira improfícua obrigar Lutero a retratar-se (em Agsburgo). O debate sumamente polêmico entre o teólogo romano João Eck e Lutero, realizado em Leipzig em 1519, não resultou em grande vitoria para nenhum dos dois lados.
O momento decisivo na vida de Lutero foi a descoberta que a justiça de Deus, como descrita na Carta aos Romanos não era uma justiça que julga e faz exigências, mas a justiça dada por Deus em graça. Alguns dos escritos mais significativos de Lutero foram publicados nos anos 1519 e 1520. Como exemplo de sua extraordinária produtividade durante esses anos pode-se destacar o fato que na segunda metade de 1519 Lutero publicou nada menos que 16 livros. A réplica de 80 páginas ( 40, na edição de Weimar), dirigida contra Silvestre Priérias foi escrita em dois dias . Entre outros escritos publicados nestes anos encontram-se: Preleções sobre Gálatas (1519), tratada sobre boas Obras, e sobre a liberdade do Cristão da Nação Alemã, como sugestões para reformas na educação e na igreja, e tambem o contravertido panfleto: Sobre o cativeiro Babilônico da Igreja, no qual Lutero deixa ver claramente que rompeu com o conceito romano dos sacramentos, bem como o siatema monarcal. Assim fazendo atacou também alguns dos fundamentos mais importantes da cultura medieval.
A bula da excumunhão foi elaborada aos poucos em Roma. Nela Lutero era acusado de heresia em 41 pontos. No entanto, esses pontos não atingiam os aspectos principais de sua teologia, pois eram, em sua maioria, de natureza insignificante. A bula prescrevia que os escritos de Lutero fossem queimados, e queima de livros foram organizadas em vários lugares, mas não obtiveram grande repercussão. Lutero retrucou permitindo a realização de um auto-de-fé fora de Wintenberga a 10 de dezembro de 1520, no qual a lei canônica e outros livros romanistas foram queimados. Também atirou a bula papal no fogo nessa ocasião, ação que parece ter passado desapercebida pela maioria nequela época. Maior importância tinha o fato de Lutero repudiar a lei canônica, simbolizado pela incineração da mesma.
Depois de demoradas negociações, o eleitor Frederico da saxônia finalmente conseguiu trazer a questão de lutero perante o Reichistag (Dieta), que se reuniu em Worms em abril de 1521, com a presença do Imperador Carlos V. De pé diante da Dieta reunida, Lutero foi intimado a retratar-se. Sua famosa resposta, apresentada após um dia de deliberação, fez ver claramente que não poderia retratar-se a não ser que fosse convencido pela escritura ou por raciocínio claro. As discurssões subsequentes entre Lutero e os principais teólogos católicos presentes em Worms só serviram para demostrar mais claramente ainda, que lutero era impossível aceitar a Igreja de Romana e sua Teologia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
DREHER, Martin. A crise e a renovação da igreja no período da reforma. 4ed. São Leopoldo: Sinodal. 2006. Coleção História da Igreja, Vol 3.GONZALEZ, Justo. Uma história do pensamento cristão: da Reforma Protestante ao século XX. São Paulo: Cultura Cristã. 2004.
TILLICH, Paul. História do pensamento cristão. São Paulo: Aste
HAGGLUND, Benegt, Historia da Teologia
Porto Alegre, Concórdia, 1973.